Chronique par Rui Eduardo Paes sur Jazz.pt (17 janvier 2018)

Vão sendo já tão habituais lançamentos discográficos como “Live at The Century City Playhouse” que, um desses anos, as listas de Melhores Discos terão de incluir uma nova categoria: aquela em que caibam as gravações históricas que nunca antes foram editadas. Talvez por isso, esta acabou por não constar das escolhas de 2017, ainda que o merecesse. Das duas uma: ou a tecnologia evoluiu de tal modo que já é possível recuperar registos que até recentemente se julgavam “perdidos”, ou estamos a viver uma nova fase de interesse pelo passado das áreas mais “underground” da música a que chamamos jazz. No caso, a atenção recaiu sobre os começos (na altura, 1979, tinha apenas dois títulos na sua própria, e obscura, editora) de um músico de Los Angeles que hoje é uma lenda do poli-instrumentismo: Vinny Golia.

No concerto em questão, encontramos o então jovem músico (em saxofone barítono, clarinete baixo e flautas piccolo, em dó e alto) com duas luminárias da contracultura californiana que, na altura, só tinham em Horace Tapscott um colega de igual estatura, o clarinetista John Carter e o cornetista Bobby Bradford (tocavam habitualmente em duo), e ainda com Glenn Ferris e o seu trombone. A própria formação instrumental indica o que se ouve: jazz de câmara, e com tanta ou mais influência da música erudita do que aquela que, em Chicago, caracterizou a AACM. Mas porque Carter, Bradford e Ferris tiveram o bebop como língua e escola, mais do que Golia, essa é também uma referência que transparece dos temas, temperando os factores explicitamente “vanguardistas” com uma identidade jazzística mais formal. Estas conjugações soam particularmente bem e antecipam em várias décadas projectos que estão a ser desenvolvidos agora. Pois oiça-se como os pioneiros faziam…

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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